Se pudessemos tirar conclusões de compilações de imagens que nos surgem nos sonhos, seriamos talvez mais certos e estáveis connosco mesmos e com as pessoas em redor. As imagens que me interrompem as noites frias dão-me vontade de fugir da minha vida. A certeza para mim é incerta. E a incerteza... temo que seja verdadeira. Tenho saudades da minha vida como era antes de tudo me confundir. Tenho saudades dos meus pesadelos com aranhas em vez de sonhos sombrios e que revelam perigos. Tenho saudades dos tempos em que pedia ao meu pai o copo de água antes de dormir, em vez de ir bebê-la antes de deitar. Tenho saudades de não saber escrever e dizer "proglemas" em vez de "problemas". Tenho saudades de pedir barbies nas pulseiras do Bonfim. Tenho saudades do Cartoon, da cerelac da minha mãe, de jogar damas com o meu avô, de fazer contagem decrescente dos dias que faltavam para ir para Maria Vinagre com a minha irmã. Tenho saudades de andar de bicicleta, de acreditar no pai natal, de fazer festas de anos no Mac, de ter os dentes para fora, de não ter o período, de ver novelas, de brincar com o meu primo, de ansiar por crescer, de falar alto demais, de rir por tudo e por nada, de ser muito pequena, de me empoleirar nas árvores, de brincar com os cães, de não ter medo de nada...

Daqui a uns anos vou ter saudades do que agora tenho.