Tuesday, October 17, 2006

Romeo and Juliet


Sentada no meu quarto a olhar para o livro de história numa página em que me explica a democracia da antiga Atenas, eu oiço um som de saxofone vindo da sala. Pronto lá está ele outra vez a ouvir os Dire Straits ao vivo, um DVD que ele gosta particularmente. Identifico de imediato a músca que ele está a ouvir: Romeo and Juliet. Levanto-me num ápice e dirigo-me para a sala. Ele estava sozinho, sentado no sofá com o turco azul vestido, de comando na mão, a olhar para a televisão. Sento-me ao lado dele e deito-me no sofá com a cabeça no seu ombro.
"juliet when we made love you used to cry
you said i love you like the stars above i'll love you till i die
there's a place for us you know the movie song
when you gonna realize it was just that the time was wrong?
Juliet"
Sinto as lágrimas a formarem-se por baixo das minha pálpebras quando o saxofone toca de novo. Não é preciso dizer nada. Ambos estamos a pensar na mesma coisa, e a sentir a mesma coisa: saudades.
Lembro-me perfeitamente do dia em que ouvi esta música pela primeira vez. A minha mãe estava na cozinha e já não me lembro onde estava a minha irmã. Já não me lembro do que estava a fazer. Só sei que quando passei pela porta da sala ouvi o meu pai a chamar-me.
- Mariana, vem cá ouvir isto com o pai.
E eu fui. Já não era aprimeira vez que ele punha uma cassete de música e que me chamava a mim ou à minha mana para vir ouvir as musicas dele. A minha mãe ia sem ser chamada. Às vezes, aos domingos quando acordavamos, o meu pai punha músicas na sala a tocar enquanto e minha mãe estava a fazer o almoço e eles punham-se a cantar os dois. Nessas altura eu só queria saber as músicas todas para também cantar. Até porque algumas delas a minha irmã também sabia, o que me deixava bastante aborrecida por não me poder juntar aos três no coro familiar.
Desta vez era uma cassete de vídeo e a primeira vez que eu vi o Mark Knopfler só pensei que ele era um bocado careca.
- O que é pai?
- Ouve e diz-me lá se não é lindo.
Ouvi e adorei. De vez em quando o meu pai lançava-me daqueles olhares como quem diz "eu tinha razão, não tinha?". Depois veio a parte do saxofone e nessa altura já estávamos os dois lado a lado com os olhos e ouvidos bem abertos. Nessa altura acho que a minha mãe veio à porta para ouvir também. E daí talvez não! O meu pai punha sempre a música aos altos berros. Não era preciso sair da cozinha para ouvir. É uma das músicas mais importantes para mim.
"juliet when we made love you used to cry
you said i love you like the stars above i'll love you till i die
there's a place for us you know the movie song
when you gonna realize it was just that the time was wrong?
Juliet"
De volta ao futuro. Olhei para ele, olhos brilhantes (já o tinha visto a chorar com esta música) e ele procurou-me a mão. Ficámos ali até a música acabar. Não derramei lágrimas apesar de elas quererem sair. Pois não há motivos para tristeza quando nos apercebemos que tivemos uma infância cheia de amor e que, apesar de já ter passado, nada muda. Pessoas desaparecem, pessoas permanecem, mas no final nunca as deixamos de amar da mesma maneira quando as amávamos quando eramos crianças.
"you and me babe how about it?...
...Juliet"

8 comments:

Analog Girl said...

Pois agora vou-te contar quando comecei a ouvir esta música e a sentir-me tocada por ela.

Eu ouço Dire Strats desde que nasci. Lembro-me de ainda morar na casa da avó e o pai pôr a tocar o Sultans of Swing e imitar os acordes da guitarra todo feliz.
Mas o Romeo and Juliet ouvi com atenção em casa da Nádia. O pai dela tinha a mesma pancada, e ela também cresceu a ouvir as mesmas músicas. Não me lembrava desta quando a ouvi, mas adorei-a desde o inicío, e a melhor versão é indubitavelmente a desse concerto brutal com os acordes do saxofone a ressoarem nos intervalos dos refrões. :)
Quando tinha a tua idade fui igualmente obcecada por esta música e ouvia-a muitas vezes quando estava sozinha. Parece-me que fala duma história de amor que acaba mal, uma história de amor dos nossos tempos, em que a parte lesada exprime todo o seu amor sem medos nem hesitações. Romeu e Julieta, uma história que acaba mal... Mas que tem beleza, e acho que é por isso que esta música tem este nome.
Quando ouço esta música, ainda sinto o amor a brotar. E por isso é que magoa tanto por vezes. Porque a dor faz parte do amor.

Mas continuo a ouvir...
:)

Mariana said...

Para carquiz:
Claro que te adoro! és louca?
Gosto muito deste texto, e fico feliz por tu gostares também.
love tou:P

Anonymous said...

Oh Mary! Q texto tao bonito.. por vezes invejo a tua maneira tao propria e bonita de escrever! :P és super especial Mariana Lirio! ADORO-TE :)

Anonymous said...

Mariana! ainda nao tinha vindo comentar o teu blog, mas quando vi este texto tive mesmo que comentar! É, realmente, um texto lindo. Fiquei sem palavras quando o li. Vou repetir o que a Marta disse, mas a verdade é que este texto toca qualquer pessoa que o leia (a mim tocou-me, podes ter a certeza!).
Adoro-te Marianazinha**

Anonymous said...

Lagrima no canto do olho.
Sem palavras.
Adoro-te prima.

Cate said...

Fizeste-me chorar.
Beijinho.

Anonymous said...

Esta foi a musica que eu ouvi no teu Ipod ? (:
Se for .. É bem linda .

Ai como eu te adoro ..

Anonymous said...

Sim, provavelmente por isso e