Saturday, April 07, 2007

Identidade(s)



Na segunda feira vou fazer testes psicotécnicos . Já tinha feito na escola o ano passado, mas tive aquela sensação de indiferença e pressa e como, ainda por cima, não houve entrevistas individuais, senti-me praticamente na mesma. A minha tia conseguiu-me esta oportunidade e eu vou aproveitá-la.

O problema é o seguinte: vou fazê-lo num grupo de mais ou menos cinco rapazes de mais ou menos a minha idade e nãos os conheço de parte nenhuma!Ora bem, isto à partida não constitui grande entrave. À partida para quem não é timido como eu sou. O meu pai virou-se para mim e disse:

- Oh Mariana que parvoice. Tu até fazes teatro, o que é muito pior.

Discordo do meu pai. Adoro fazer teatro e sou timida! O que o meu pai não percebe é que quando estou em palco é como se não estivesse, porque a Mariana Lírio não está ali. Quem está no palco comigo, em mim, é outra pessoa, uma personagem que eu trabalhei, uma personagem treinada para emitir determinadas emoções e dizer determinadas coisas. No palco o público pode criticar, pode não gostar e maldizer. Mas eu, Mariana, não me importo. Estou ali a representar um outro alguém, não eu. Não se pode dizer que sou responsável pelos actos da personagem.

Fora do palco é tão diferente. Agora sou a Mariana. A responsabilidade agora é maior, pois represento-me a mim própria. É um peso diferente (e bem maior). Sou responsável pelo que faço!

Sei que se meterem conversa comigo vou gaguejar (se ao menos tivesse um guião na mala...), sei que vou desviar o olhar. Talvez me achem timida demais, ou se calhar antipática. Tento ser eu própria, natural, mas é tão dificil... O facto é que não ensaiei em casa, não sei de cor o que dizer e de repente já transpiro. Já para não falar da preocupação do vestuário! Quero parecer minimamente apresentável.

Gosto de mim, mas ser a Mariana Lírio torna-se dificil nestas situações. Por vezes olho para outras pessoas e imagino-me nas suas vidas, como agiria na pele delas, deixando a minha própria para trás. Imagino-me noutros corpos, com outros privilégios ou problemas. Por isso é que eu gosto tanto de representar. Posso ser tudo e todos. Posso ter todas as profissões do mundo, posso ser mãe, tia, filha. Posso ser descontraida ou não, simpática ou antipática. Posso ser tudo menos eu. Mas não me intrepretem mal! Adoro ser quem sou. Mas encarnar outras personalidades, mudar de identidade, de feitio, agir de maneira diferente é tão interessante. Basta dizer que a representação é o meu sonho, desde que me lembro. Nunca quis ser outra coisa senão actriz. E que profissão, hein?

Um jornalista entrevista e conhece outras pessoas, um médico depara-se com pessoas diferentes todos os dias, um cameraman aponta a sua camara para todo o tipo de pessoas e um psicólogo tem oportunidade de estudar a mente dos diferentes individuos.

Um actor pode sê-los a todos. ;)

3 comments:

Cate said...

E serás uma boa actriz, tenho a certeza. :)

Mariana said...

Eu espero que sim :)

Analog Girl said...

Relaxa...agora já passou!
:)

São estes pequenos obstáculos que nós criamos a nós próprios que nos ensinam a viver a vida!
Quando os ultrapassamos é o melhor de tudo.