Monday, October 02, 2006

Uma réstia de esperança

Numa paragem de autocarro ela sabe que é observada por olhares ocasionais. Não são propositados mas fazem confusão à sua mente perturbada. Ela não se sente bem ali, não se sente à vontade sabendo que a sua vida é triste e que a dos outros não é tanto. Ela pensa que as outras pessoas são felizes com a vida que têm. É nessa altura que ela olha e inveja-as. É nesta altura que ela deseja voltar atrás e aproveitar melhor tudo de bom que lhe foi dado a viver. A vida não é fácil e nunca ninguém disse que era mas nós sempre nos iludimos muito e, assim, a queda é maior e doi muito mais.
Ela põe-se de pé, o autocarro pára à sua frente, as portas abrem-se e ela entra. Ninguém parece reparar nela (é mais uma que entra). Ela senta-se no banco vazio. Ao seu lado, no outro banco encontra-se uma rapariga de mais ou menos cinco anos com a sua mãe. Esta continua a ler a revista mas a rapariga não tira os olhos da triste figura que se encontra no banco do lado. Ela parece não querer saber da pequena. Prefere ser deixada em paz no seu desgosto. Mas a menina insiste, sai do banco (a mãe parece estar realmente muito envolvida no artigo da revista) e vai ter com ela. Finalmente a rapariga consegue deitar as lágrimas tão teimosas e sente a pequena mão da menina a limpar-lhe a face. Então ela levanta o olhar para ver o sorriso rasgado da pequena que parecia disposta a ficar ali até ela parar de chorar. Mas o autocarro pára e a menina tem de se ir embora. Tira, então, o seu ganchinho do cabelo, deixando-o completamente despenteado, e põe-no na mão da rapariga. Esta fica a olhar para ele durante mais uns segundos e consegue finalmente sorrir pela primeira vez em muito tempo.
Aquele gancho vai acompanhá-la para toda a vida para relembrá-la, sempre que se esquecer nos momentos de grande desespero, que não está sozinha.

4 comments:

Anonymous said...

Acho que me indentifico com essa rapariga que inveja por vezes a felicidade do outros...e que pensa smp que podia ter vivido os seus bons momentos de outra forma!


Por vezes as atitudes de pequenos seres (que apesar de saberem menos que nós ensinam-nos mto +!)recofortam-nos mil vezes melhor de que qqr palavra de pessoas que se julgam maduras!


Texto especialmente bonito@

Mariana said...
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Analog Girl said...

:)

Anonymous said...

Mianaa :) O teu Blog ta girissimo :P e adorei os teus post's..
Quando ao texto penso que todos nos percebemos o percebemos.. quem é q ainda nao sentiu auela frustraçao por todos serem felizes (aparentemente) e para nos so restar a desgraça?.. É sem duvida uma historia bonita q da q pensar.. adoro'te brasaa :) Da tua, Bea*